Dissabte, 16 de
juny • 21:30h
'Música és enxampar mosques' de Miquel Àngel Marín
+
'Tabaqueria' de
Fernando Pessoa, per Carles Andreu
Miquel Àngel Marín: "Moviment al pont, LO PASSADOR", 15 VII 11 (facebook Màngel) |
Presentació del
llibre de Miquel Àngel Marín "Música és enxampar mosques", a cura
d'Andreu Subirats i Carles Andreu
i
Carles Andreu, Poesia als Parcs, Galatxo de Sorrapa, 3 vi 12 (facebook Bouesia) |
Carles Andreu recita el poema
"Tabaqueria" de Fernando Pessoa, acompanyat de Joan Saura (sampler),
Ignacio Lois (guitarra) i Miquel Àngel Marín (clarinet).
Preu: 5€
HELIOGÀBAL
C/ Ramón y Cajal, 80 - Barcelona
Metro L4 (Joanic), L3 (Fontana)
Horari d'estiu:
De dimarts a dijous, de 22:00h a 3:00h.
Divendres i dissabte, de 22:00h a 3:30h.
Quan hi ha concert, obrim mitja hora abans.
Diumenge i dilluns, tancat.
De dimarts a dijous, de 22:00h a 3:00h.
Divendres i dissabte, de 22:00h a 3:30h.
Quan hi ha concert, obrim mitja hora abans.
Diumenge i dilluns, tancat.
TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu
quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido,
como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo,
como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que
serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates,
pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da
amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que
não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e
até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não
soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos
meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da
Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa
defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou
na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao
pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para
trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a
filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos, 15-1-1928, PESSOA
http://www.insite.com.br/art/pessoa/ficcoes/acampos/456.php
(Tu, que
consoles, que no existeixes i per això consoles,
Però un home
acaba d’entrar a l’Estanc (a comprar tabac?),
L’ESTANC
No sóc res.
Mai no seré res.
No puc voler ser
res.
A part d’això,
tinc en mi tots els somnis del món.
Finestres de ma
cambra,
de la meva cambra
una d’entre els milions del món que ningú no sap quina és
(i si sabessin
qui és, què sabrien?),
doneu al misteri
d’un carrer per on passa constantment la gent,
a un carrer
inaccessible a tots els pensaments,
real,
impossiblement real, cert, desconegudament cert,
amb el misteri de
les coses a sota de les pedres i dels éssers.
Amb la mort
posant humitat a les parets i cabells blancs als homes,
amb el Destí
menant el carro de tot per la carretera de res.
Avui estic vençut
com si sabés la veritat.
Avui estic lúcid,
com si estigués a punt de morir
i no tingués més
germanor amb les coses
sinó un comiat,
aquesta casa i aquesta banda de carrer havent esdevingut
la filera de
carruatges d’un comboi, xiulada la sortida
de dins estant
del meu cap,
i sacsejats els
meus nervis i xerricant els meus ossos en la marxa.
Avui estic
perplex com qui ha pensat, trobat i oblidat.
Avui estic
dividit entre la lleialtat que dec
a l’Estanc de l’altra
banda del carrer, com a cosa real per dins.
He fracassat amb
tot.
Com que no tenia
cap propòsit, tot fou tal volta no res.
De l’aprenentatge
que em donaren,
vaig davallar-ne
per la finestra de l’eixida de casa.
Vaig anar al camp
amb grans propòsits,
però sols vaig
trobar-hi herbes i arbres,
i quan hi havia
gent, era igual a l’altra.
Em retiro de la
finestra, m’assec en una cadira. En què haig de pensar?
Què sé jo el que
seré, jo, que no sé el què sóc?
Ser el que penso?
Mes em penso ser tanta cosa!
I n’hi ha tants
que es pensen ser el mateix, que no pot haver-n’hi tants.
Geni? En aquest
moment
cent mil cervells
es concebeixen en somnis tan genis com jo,
i la història no
n’ungirà, qui pot saber-ho?, cap ni un,
n’hi haurà sinó
femada de tantes conquestes futures.
No, no crec en
mi.
A tots els
manicomis hi ha bojos guillats per tantes certeses! No, ni en mi...
Jo, que no tinc
cap certesa, tinc més seny o no tinc menys seny?
A quantes
mansardes i no mansardes del món
no hi haurà a
hores d’ara genis-per-a-si-mateixos somniant?
Quantes aspiracions
altes i nobles i lúcides
-sí,
veritablement altes i nobles i lúcides-
i qui sap si
realitzables,
mai no veuran la
llum del sol real ni trobaran l’oïda de ningú?
El món és de qui
neix per a conquerir-lo
i no pas de qui
somia que pot conquerir-lo, encara que tingui raó.
He somiat més que
tot el que feu Napoleó.
He estret contra
el meu pit hipotètic més humanitats que el Crist,
he fet en secret
filosofies que mai Kant no escrigué.
Però sóc, i
potser seré sempre, el de la mansarda,
encara que no hi
visqui;
seré sempre el
que no va néixer per això;
seré sempre tan
sols el que tenia qualitats;
seré sempre el
que esperà que li obrissin la porta al peu d’una paret sense porta
i que cantà la
cantinela de l’Infinit en un galliner
i sentí la veu de
Déu en un pou colgat.
Creure en mi? No,
ni en res.
Aboqueu-me la
Natura damunt del cap ardent,
el seu sol, la
seva pluja, el vent que m’abraona els cabells,
i la resta que
vingui si ve o ha de venir, o que no vingui.
Esclaus cardíacs
de les estrelles,
conquerim el món
abans d’alçar-nos del llit;
però ens
desvetllem i és opac,
ens alcem i és
alié,
sortim de casa i
és la terra sencera
més el sistema
solar i la Via Làctia i l’Indefinit.
(Menja xocolata,
menudeta;
menja xocolata!
Mira que no hi ha
més metafísica al món que la xocolata.
Mira que les
religions no ensenyen més que la confiteria.
Menja marraneta,
menja!
Però jo penso, i,
en llevar el paper de plata, que és de full d’estany
ho tiro tot per
terra, igual que hi vaig tirar la vida).
Però, almenys, de
l’amargura del que mai no seré, en resta
la cal·ligrafia
ràpida d’aquests versos,
pòrtic tendit
vers l’Impossible.
Però almenys
consagro a mi mateix un menyspreu sense llàgrimes,
noble almenys pel
gest de llarguesa amb que llenço
la roba bruta que
sóc, sense rebut, al decurs de les coses,
i em quedo a casa
sense camisa.
deesa grega,
concebuda com a estàtua vivent,
o patrícia
romana, impossiblement noble i nefasta
o princesa de
trobador, molt gentil il·luminada
o marquesa del
segle divuit, escotada i distant
o cèlebre cocotte del temps dels nostres pares
o no sé què de
modern -no imagino bé el què- tot això
sigui el que
sigui que siguis, si pot inspirar, que inspiri!
El meu cor és una
galleda buida.
Com aquells que
invoquen esperits,
m’invoco a mi
mateix i no trobo res.
M’apropo a la
finestra i veig el carrer amb una nitidesa absoluta.
Veig les
botigues, veig els passeigs, veig els cotxes que passen,
veig els ens
vivents que es van creuant,
veig els gossos,
que també existeixen,
i tot això em
pesa com una condemna a l’exili
i tot això m’és
estrany, com tot.)
He viscut,
estudiat, estimat i fins cregut,
i avui no hi ha
captaire que no envegi sols pel fet de no ser jo.
Esguardo els
pedaços, les nafres i la mentida de cadascú,
i penso: mai,
potser, no has viscut, ni estudiat, ni estimat, ni cregut
(perquè és
possible fer la realitat de tot això sense fer res de tot això);
potser a penes
has existit, com la sargantana amb la cua tallada
i que és cua
separada de la sargantana, bellugant-se.
He fet de mi el
que no he sabut,
i el que en podia fer no ho vaig fer.
Em vaig vestir
amb un dominó equivocat.
Acabat em
conegueren pel que no era, no ho vaig desmentir, i em vaig perdre.
Quan vaig voler
arrancar la màscara,
la tenia
enganxada a la cara.
En llevar-me-la i
veure’m al mirall,
ja havia
envellit.
Feia pena, ja no
sabia vestir el dominó que no m’havia tret.
Vaig treure’m la
màscara, dormint després al guarda-roba,
com un gos
tolerat per la gerència,
essent inofensiu,
i ara escriuré
aquesta història per a provar que sóc sublim.
Essència musical
dels meus versos inútils,
qui pogués
trobar-te com a cosa feta per mi,
per comptes d’estar-me
sempre enfront de l’Estanc d’enfront,
calcigant la
consciència d’estar existint
com la catifa amb
la qual s’entrebanca l’embriac
o l’estora robada
pels gitans i que no valia res.
i la realitat
plausible cau de sobte al meu damunt.
Em mig incorporo,
enèrgic, convençut, humà,
i intentaré d’escriure
aquests versos en què dic el contrari.
Encenc un
cigarret tot pensant a escriure’ls
i en el cigarret
assaboreixo l’alliberament de tots els pensaments.
Segueixo el fum
com a ruta pròpia,
i gaudeixo, en un
moment sensitiu i competent,
de l’alliberament
de totes les especulacions
i de la
consciència que la metafísica és una conseqüència de trobar-se indisposat.
Després em
repenjo a la cadira i segueixo fumant.
Tant com el Destí
m’ho concedeixi, seguiré fumant.
(Si em casés amb
la filla de la meva bugadera, potser seria feliç.)
Vist això, m’aixeco
de la cadira. M’atanso a la finestra.
L’home surt de l’Estanc
(guardant-se el canvi a la butxaca de les calces?).
Ah!, el conec: és
l’Esteves sense metafísica.
(L’Amo de l’Estanc
ja és a la porta).
Com per un
instint diví, l’Esteves es tomba i em veu.
Em fa el gest d’adéu,
jo crido Adéu, Esteves! I l’univers
se’m reconstrueix
sense ideal ni esperança, i l’amo de l’Estanc somriu.
Traducció,
concepte de l’espectacle i recitat: Carles Andreu.
CÀNTIC DIVERS DE
LA LLENGYUA CATALANA ENAMORADA DEL POEMA ESTANC
DE FERNADO PESSOA, POETA PLURAL PORTUGUÉS. Biblioteca Jaume Fuster, 20 X 2010. Gràcia
Territori Sonor.
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