diumenge, 10 de juny del 2012

MIQUEL ÀNGEL MARÍN I CARLES ANDREU A L'HELIOGÀBAL


Dissabte, 16 de juny • 21:30h
'Música és enxampar mosques' de Miquel Àngel Marín 
'Tabaqueria' de Fernando Pessoa, per Carles Andreu
Miquel Àngel Marín: "Moviment al pont, LO PASSADOR", 15 VII 11 (facebook  Màngel)

Presentació del llibre de Miquel Àngel Marín "Música és enxampar mosques", a cura d'Andreu Subirats i Carles Andreu 
i
Carles Andreu, Poesia als Parcs, Galatxo de Sorrapa, 3 vi 12 (facebook  Bouesia)

Carles Andreu recita el poema "Tabaqueria" de Fernando Pessoa, acompanyat de Joan Saura (sampler), Ignacio Lois (guitarra) i Miquel Àngel Marín (clarinet).

Preu: 5€
HELIOGÀBAL
C/ Ramón y Cajal, 80 - Barcelona
Metro L4 (Joanic), L3 (Fontana)


Horari d'estiu:
De dimarts a dijous, de 22:00h a 3:00h.
Divendres i dissabte, de 22:00h a 3:30h.
Quan hi ha concert, obrim mitja hora abans.
Diumenge i dilluns, tancat.

TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre
 o que não nasceu para isso;
Serei sempre só
 o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe
 Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, 15-1-1928, PESSOA

http://www.insite.com.br/art/pessoa/ficcoes/acampos/456.php


L’ESTANC
No sóc res.
Mai no seré res.
No puc voler ser res.
A part d’això, tinc en mi tots els somnis del món.

Finestres de ma cambra,
de la meva cambra una d’entre els milions del món que ningú no sap quina és
(i si sabessin qui és, què sabrien?),
doneu al misteri d’un carrer per on passa constantment la gent,
a un carrer inaccessible a tots els pensaments,
real, impossiblement real, cert, desconegudament cert,
amb el misteri de les coses a sota de les pedres i dels éssers.
Amb la mort posant humitat a les parets i cabells blancs als homes,
amb el Destí menant el carro de tot per la carretera de res.

Avui estic vençut com si sabés la veritat.
Avui estic lúcid, com si estigués a punt de morir
i no tingués més germanor amb les coses
sinó un comiat, aquesta casa i aquesta banda de carrer havent esdevingut
la filera de carruatges d’un comboi, xiulada la sortida
de dins estant del meu cap,
i sacsejats els meus nervis i xerricant els meus ossos en la marxa.
Avui estic perplex com qui ha pensat, trobat i oblidat.
Avui estic dividit entre la lleialtat que dec
a l’Estanc de l’altra banda del carrer, com a cosa real per dins.

He fracassat amb tot.
Com que no tenia cap propòsit, tot fou tal volta no res.
De l’aprenentatge que em donaren,
vaig davallar-ne per la finestra de l’eixida de casa.
Vaig anar al camp amb grans propòsits,
però sols vaig trobar-hi herbes i arbres,
i quan hi havia gent, era igual a l’altra.
Em retiro de la finestra, m’assec en una cadira. En què haig de pensar?

Què sé jo el que seré, jo, que no sé el què sóc?
Ser el que penso? Mes em penso ser tanta cosa!
I n’hi ha tants que es pensen ser el mateix, que no pot haver-n’hi tants.
Geni? En aquest moment
cent mil cervells es concebeixen en somnis tan genis com jo,
i la història no n’ungirà, qui pot saber-ho?, cap ni un,
n’hi haurà sinó femada de tantes conquestes futures.
No, no crec en mi.
A tots els manicomis hi ha bojos guillats per tantes certeses! No, ni en mi...
Jo, que no tinc cap certesa, tinc més seny o no tinc menys seny?
A quantes mansardes i no mansardes del món
no hi haurà a hores d’ara genis-per-a-si-mateixos somniant?
Quantes aspiracions altes i nobles i lúcides
-sí, veritablement altes i nobles i lúcides-
i qui sap si realitzables,
mai no veuran la llum del sol real ni trobaran l’oïda de ningú?
El món és de qui neix per a conquerir-lo
i no pas de qui somia que pot conquerir-lo, encara que tingui raó.
He somiat més que tot el que feu Napoleó.
He estret contra el meu pit hipotètic més humanitats que el Crist,
he fet en secret filosofies que mai Kant no escrigué.
Però sóc, i potser seré sempre, el de la mansarda,
encara que no hi visqui;
seré sempre el que no va néixer per això;
seré sempre tan sols el que tenia qualitats;
seré sempre el que esperà que li obrissin la porta al peu d’una paret sense porta
i que cantà la cantinela de l’Infinit en un galliner
i sentí la veu de Déu en un pou colgat.
Creure en mi? No, ni en res.
Aboqueu-me la Natura damunt del cap ardent,
el seu sol, la seva pluja, el vent que m’abraona els cabells,
i la resta que vingui si ve o ha de venir, o que no vingui.
Esclaus cardíacs de les estrelles,
conquerim el món abans d’alçar-nos del llit;
però ens desvetllem i és opac,
ens alcem i és alié,
sortim de casa i és la terra sencera
més el sistema solar i la Via Làctia i l’Indefinit.
(Menja xocolata, menudeta;
menja xocolata!
Mira que no hi ha més metafísica al món que la xocolata.
Mira que les religions no ensenyen més que la confiteria.
Menja marraneta, menja!
Però jo penso, i, en llevar el paper de plata, que és de full d’estany
ho tiro tot per terra, igual que hi vaig tirar la vida).

Però, almenys, de l’amargura del que mai no seré, en resta
la cal·ligrafia ràpida d’aquests versos,
pòrtic tendit vers l’Impossible.
Però almenys consagro a mi mateix un menyspreu sense llàgrimes,
noble almenys pel gest de llarguesa amb que llenço
la roba bruta que sóc, sense rebut, al decurs de les coses,
i em quedo a casa sense camisa.

 (Tu, que consoles, que no existeixes i per això consoles,
deesa grega, concebuda com a estàtua vivent,
o patrícia romana, impossiblement noble i nefasta
o princesa de trobador, molt gentil il·luminada
o marquesa del segle divuit, escotada i distant
o cèlebre cocotte del temps dels nostres pares
o no sé què de modern -no imagino bé el què- tot això
sigui el que sigui que siguis, si pot inspirar, que inspiri!
El meu cor és una galleda buida.
Com aquells que invoquen esperits,
m’invoco a mi mateix i no trobo res.
M’apropo a la finestra i veig el carrer amb una nitidesa absoluta.
Veig les botigues, veig els passeigs, veig els cotxes que passen,
veig els ens vivents que es van creuant,
veig els gossos, que també existeixen,
i tot això em pesa com una condemna a l’exili
i tot això m’és estrany, com tot.)

He viscut, estudiat, estimat i fins cregut,
i avui no hi ha captaire que no envegi sols pel fet de no ser jo.
Esguardo els pedaços, les nafres i la mentida de cadascú,
i penso: mai, potser, no has viscut, ni estudiat, ni estimat, ni cregut
(perquè és possible fer la realitat de tot això sense fer res de tot això);
potser a penes has existit, com la sargantana amb la cua tallada
i que és cua separada de la sargantana, bellugant-se.
He fet de mi el que no he sabut,
 i el que en podia fer no ho vaig fer.
Em vaig vestir amb un dominó equivocat.
Acabat em conegueren pel que no era, no ho vaig desmentir, i em vaig perdre.
Quan vaig voler arrancar la màscara,
la tenia enganxada a la cara.
En llevar-me-la i veure’m al mirall,
ja havia envellit.
Feia pena, ja no sabia vestir el dominó que no m’havia tret.
Vaig treure’m la màscara, dormint després al guarda-roba,
com un gos tolerat per la gerència,
essent inofensiu,
i ara escriuré aquesta història per a provar que sóc sublim.

Essència musical dels meus versos inútils,
qui pogués trobar-te com a cosa feta per mi,
per comptes d’estar-me sempre enfront de l’Estanc d’enfront,
calcigant la consciència d’estar existint
com la catifa amb la qual s’entrebanca l’embriac
o l’estora robada pels gitans i que no valia res.

 Però un home acaba d’entrar a l’Estanc (a comprar tabac?),
i la realitat plausible cau de sobte al meu damunt.
Em mig incorporo, enèrgic, convençut, humà,
i intentaré d’escriure aquests versos en què dic el contrari.
Encenc un cigarret tot pensant a escriure’ls
i en el cigarret assaboreixo l’alliberament de tots els pensaments.
Segueixo el fum com a ruta pròpia,
i gaudeixo, en un moment sensitiu i competent,
de l’alliberament de totes les especulacions
i de la consciència que la metafísica és una conseqüència de trobar-se indisposat.
Després em repenjo a la cadira i segueixo fumant.
Tant com el Destí m’ho concedeixi, seguiré fumant.
(Si em casés amb la filla de la meva bugadera, potser seria feliç.)
Vist això, m’aixeco de la cadira. M’atanso a la finestra.
L’home surt de l’Estanc (guardant-se el canvi a la butxaca de les calces?).
Ah!, el conec: és l’Esteves sense metafísica.
(L’Amo de l’Estanc ja és a la porta).
Com per un instint diví, l’Esteves es tomba i em veu.
Em fa el gest d’adéu, jo crido Adéu, Esteves! I l’univers
se’m reconstrueix sense ideal ni esperança, i l’amo de l’Estanc somriu.

Traducció, concepte de l’espectacle i recitat: Carles Andreu.
CÀNTIC DIVERS DE LA LLENGYUA CATALANA ENAMORADA DEL POEMA ESTANC DE FERNADO PESSOA, POETA PLURAL PORTUGUÉS. Biblioteca Jaume Fuster, 20 X 2010. Gràcia Territori Sonor